segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Encantamento diário

Encantamento diário

Meu amor,
Saibas que diariamente tu passas por aqui
para deixar alguma dose de encantamento

Passas por aqui, diariamente
e deixas um cheiro de flor
Deixas palavras tenras
Deixas sorrisos frouxos
Deixas um abraço apertado
Deixas beijos calmos
beijos apaixonados

Fisicamente distantes
Mentalmente conectados
Da distância fez-seriso
da saudade, fez-se ternura

A distância, meu amor,
tem horas que até desvanece no ar
pois constantemente estou
a me encantar
a amar
a te amar

domingo, 1 de novembro de 2015

Antes de partir

Antes de partir eu quero que saibas que desejo
novamente ouvir o som da tua risada
leve, solta, sem embaraço
rir meu riso e degustar o teu riso
riso despretensioso
ah, baby, não adianta teimar
o restante do mundo não compreenderá

Por fim, somos nós
Por fim, gravei teu toque em mim
Por fim, mimetizei seu cheiro
Por fim, ausência e presença se confundem em uma imbatível dança
Por fim, a presença traz-me êxtase, alegria, ternura
Por fim, a ausência traz-me incertezas, angústias, saudades
Contudo, ausência e presença nestas últimas semanas trouxe-me certezas
E, por fim, quero que guarde, quero que me guarde

Enfim, o por fim não é um fim
Pois embora não saibamos
o que os próximos meses reservam
sabemos precisamente
da sensação de sermos nós

E tu nem imaginas o contentamento que tua voz me dá
o arrepio de quando tuas mãos percorrem meu corpo
ou de quando loucamente e apaixonadamente beijo teus lábios em fogo
ou de quando teus olhos sorriem para mim
ou de quando o meu coração desatina a disparar
ou de como gostaria de destruir os infames relógios
quando estou entorpecida por teus afagos, braços, abraços
Enfim, o por fim não é um fim
As coisas lindas ficarão

E, saibas que, finalmente
os não ditos podem ser ditos
sussurrados
confessados
Eu
te amo


quarta-feira, 22 de julho de 2015

Anotações sobre o fim

Sabiamente Chico Buarque disse "Não se atire do terraço, não se esqueça depressa de mim". E esta é, certamente, uma das mais lúcidas frases a respeito do indigesto e insuperável assunto dos rompimentos amorosos.
Ah, o amor...o amor dentro de um relacionamento. Alguns tem a ventura de colecionar um bocado deles no decorrer da vida. Outros, verdadeiramente vivem apenas um amor e outros após são apenas versões repaginadas do derradeiro. Alguns simplesmente poupam o coração de tanto desgosto, outros nem fazem questão. Tem até os que vivem tentando e não conseguem sair da largada.
O fato é que, provavelmente, você que me lê, de alguma forma ou de outra, entenderá o teor do que digo. Se acrescentará outros ornamentos, cores, cheiros, encantos, fique à vontade, a história também é sua.
Pois bem, aquele amor doído, duradouro e finito lhe pegará de surpresa em qualquer momento de distração. Talvez um amigo o apresente em uma festa esquisita que felizmente vocês resolveram ir. Talvez se esbarrem em uma biblioteca. Dentro de um coletivo. Em paris. No boteco. No arraiá do Alceu Valença. No puteiro. Mas aquele maldito(a) irá aparecer. E lhe envolver em uma indefensável aura de encantamento. Se no primeiro ou no décimo encontro, acontecerá aquele beijo fatal. Em um dia qualquer você provará a mais deliciosa boca de sua vida. Será entorpecido por lábios, línguas, danças, abraços, mãos, dedos, cheiros, calor. O amor também é feito de efusivas reações químicas.
Por um longo ou curto período de tempo, vocês irão se amar. Criarão apelidos idiotas, sentirão saudades, farão sexo amavelmente e apaixonadamente, brigarão, se odiarão por quase um segundo e no segundo seguinte se amarão mais.
E..fim. Um dia vai acabar. Não necessariamente o amor, mas o relacionamento esvanecerá. A pessoa irá de fininho saindo da sua vida. E consciente ou inconscientemente você ficará perplexo ao constatar a amargura de nada poder fazer para ressuscitar um amor falido.
Qualquer hora você levará um épico pé na bunda em pleno sábado à noite, uma semana após o seu avó sair do hospital e do seu cachorro morrer, tremendo de frio, de fome, de decepção.
Vai doer, e como dói. Vai demorar um tempo recompondo os destroços do seu ego e de seu coração.
Contudo, um dia, novamente em um momento de distração, você perceberá:
"Não desidratei. Não enlouqueci (totalmente). Não tentei (novamente) me jogar do décimo andar.
Questão de opção em meio ao completo caos: Ser forte ou ser forte. Condição sine qua non para que continue rolando os dardos"
E você sobrevive. Cresce. Amadurece. Fortifica. Distribui os bons frutos por aí e engole ou descarta os frutos ruins. Cicatrizes, fazem parte. Decepções também. Deixa o novo entrar, menina. Deixa o perdão chegar e ficar. Deixa aquele riso habitual voltar. Não descarta todos os sonhos levianamente. Permita revolucionar o seu interior para, assim, revolucionar a sua realidade.

hipóteses

beijo molhado
virado
trocado
aspirado
aperta o peito
incendeia o desejo

mãos quentes
carentes
e seus afluentes

me apertam
me cheiram
me tocam
me aspiram
me arrepiam
me acariciam
me viram
me trocam
me reviram
só para o meu deleite

e depois,
farta
exausta
ancoro em seus braços
entrego-me
aos infinitos
do corpoe d'alma

ah, mulato,
põe chamas em meu débil coração

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Liberta de um claustrofóbico viver
Hoje aspiro a uma mansa vida
Meu caminhar é sereno e determinado,

Deixei as tralhas naquela casa vazia
Triste cativeiro dos meus vícios
que não pretendo mais cativar
O último beijo, o último suspiro, o último toque,
Para mim, tão sincero
Mal sabia que era de despedida

Teimei, voltei a velha casa, antigo abrigo de paixão
E de desespero
Muitas coisas vivemos lá, você sabe,
Contudo, nada restou, meu bem,
Nada além de lembranças, malditas e traiçoeiras lembranças!

Voltei, você sabe, pela última vez,
Talvez nem soubesse que pela derradeira vez estaria eu pisando na cerâmica sombria
Entreguei-me ao frenesi da loucura, aspirei até a última gota
Nem ligações, nem mensagens, nem qualquer outro álibi me fez mudar de ideia
Se aquele era o fim, o nosso fim, eu iria, portanto, até o último suspiro do nós
Nós calejado, tão débil, desesperado por partir deste inferno.

Depois de muito resistir, adormeci
Foi quando pela porta do quarto você entregou e despejou a sua infinita ingratidão
Moeu meu coração em frangalhos intangíveis, milhares de fragmentos sem compaixão
Tratou como verme o meu psicótico amor e minha lamentável falta de amor
Disse-me, sôfrego e encolerizado:
"Vai-te embora, nesta casa tu não mora mais.
Aqui tu não mais pertencerá, vai-te embora, já"

Nadei, bêbada, por náufragos nunca vistos antes pelo meu ser

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Sinto muito em te dizer, amor, mas eu estou carente.
Estou carente, de mim, não de ti.
Ando procurando desajeitadamente, aquilo que me pertence, em outros mundos.
É injusto. É desleal. É pesado.

Hoje não quero badalar, não quero ressaca de vinho barato, não quero gastar o que não tenho.
Hoje à noite eu quero ficar em casa de bobeira, de pijamas.
Quero Simone de Beauvoir, quero liquidações de sebo online,
Quero flores perfumadas, biscoito molhado no leite quente,
Quero colo de mãe, quero dormir cedo,
Quero a delícia de estar só, mas não me sentir só

Hoje eu quero eu mesma, não..
Talvez tenhamos nos apaixonado da forma errada.

E se for para sair, quero ir só.
Talvez um amigo venha a calhar, para adoçar, para desabafar.

Vai-te embora com este egoísmo,
Mastiga o teu orgulho
Engole esta carranca, com cachaça.
Mas, se embriague para lá, pois hoje eu vou para cá.

Hoje, assim, quero assim.
E amanhã, será?

Decreto

E a partir de hoje, por meio deste decreto, não justifico os meus sentimentos.
Está terminantemente proibido justificar lágrimas.
Ora, coisa mais besta tentar decifrar o indecifrável.
Se me pedires para justificar a minha tristeza, tem jeito não.
Me escuso de justificar o meu eu.
Não faça desatenção, faça não.
Pode ser a gota d'água